REVELANDO A BELEZA DA LITURGIA: UM ENCONTRO PROFUNDO COM DEUS
A liturgia é ação do povo.
Muito já se ouviu a respeito, em opiniões que buscam ora exaltar a comunidade, ora diferenciar a figura do sacerdote; e, na ordem da fé eclesial, todo diacronismo é infrutífero e divisor.
E a Igreja é comunhão, essencialmente comunhão com a Trindade e a transcendência; por isso, dizer que a liturgia é do povo, deve significar necessariamente que é este povo, o povo de Deus, que formou-se pela adesão ao chamado de Cristo, e quer encontrar seu Redentor na pessoalidade do sacramento da penitência e da Eucaristia.
Esse povo, embora de muitas faces, culturas e jeitos, no encontro com Seu Senhor deve buscar se deixar transformar por Ele, e ao reunir-se não reúne-se para celebrar suas vontades e sua cultura, mas para que que desta reunião em que cada um contribui com a oferta da vocação que possui, forme verdadeiramente o corpo místico de Cristo.
A comunidade não se celebra a si mesma, mas, deve voltar-se para o oriente da cruz; como orienta o costume da "celebração versus Deum", com a cruz sobre o altar. .
Ele é a razão da assembleia que reúne-se para abrir-se na busca pelo Senhor.
Hoje se vê a teologia litúrgica reduzir o mistério escatológico a uma ação sociológica em que se sobressaem o particular da comunidade, o gosto da equipe litúrgica e o particularismo do sacerdote que ora puxa para o progressismo, ora para o saudosismo, e, nessa interpretação de hermenêutica de ruptura da intenção do Concílio, ele próprio passa a reveria, revelando não outra coisa que não um completo desconhecimento de história, e, uma soberba espiritual que põem-se acima do fato de que é “o espírito que conduz a Igreja”.
Enquanto nossa condição seria a de servos da grande graça que é participar da celebração do mistério salvífico da nossa fé.
É preciso ler os documentos antes de dizer o que foi ou não modificado, e ver que não há contraposição entre o rito antigo e o atual, e que ambos são modos que a Igreja celebrou e santificou.
Fujamos de teatralidades, de belicosidades, busquemos o que ajuda a celebrar o mistério: A beleza, a acolhida, a preparação orante, a comunhão que se abre ao novo e não se transforma num gueto, a oferta da vida e a abertura do coração.
Quanto tempo perdido com ninharias, com achismos, com implicâncias, enquanto a regra é uma só: Se está no missal, se faz, se usa e se estuda; se não está, não se inventa, se é necessário uma adaptação, que seja feita de tal forma ao ponto de que o novo não seja mais importante que o perene.
A missa não é uma busca por invenções cativantes, romanceadas, sensações de humor, justificação de opiniões ideológicas, mas, encontro com o Senhor, e para isso, Ele, através da Igreja deixou um caminho a ser obedecido.
Mas, obediência, renúncia, estudo e autenticidade parecem palavras difíceis demais para uma era que busca saciar-se sempre pelo mais fácil, que quer um Deus a seu modo, e não o Deus da cruz, que revela uma verdade fundamental a muito já esvanecente: A vida humana é um peregrinar entre a dor e a esperança, em cuja meta está a vitória sobre a morte e o abandono deste mundo para a vida verdadeira na eternidade.
Não entender a ação litúrgica como comunhão com o Eterno é o pressuposto de ideias como “para que uma liturgia rica e solene se estou em meio a pobres?”
Ora, acaso os preferidos de Cristo não merecem algo bem feito?
A deformação estética da liturgia, que é outro nome para uma “guerra a beleza”, revela um espírito alijado e incapaz de ver com os olhos da fé que a maior riqueza da Igreja é Cristo, e que tudo está a Seu serviço, que somos meros servidores, mas, o sirvamos bem, a liturgia é o cume de um caminho de fé, caridade, e testemunho.
Os paramentos, as alfaias, os cantos, os gestos, precisam estar condignos daquele que recebeu Ouro Incenso e Mirra, por ser Rei, Sacerdote e Homem, e por sua encarnação e mistério pascal elevou-nos à condição de filhos de Deus.
Há uma diferença muito grande entre nobre sobriedade e descaso.
Colocar-se acima da bi-milenar Tradição da Igreja é falta de humildade, a humildade de crucificar nossas vontades para um bem maior, como Nosso Senhor o fez.
Retirar da liturgia sua beleza não é só um problema estético.
Mas, reflete uma imagem de Deus; Se Deus para mim não é belo, é por que acusa minha deformidade, se não é silencio, acusa minha inquietação, se não é mistério, acusa minha superficialidade, se não é harmônico, acusa minha fragmentação, se não é misericórdia, acusa meu moralismo, se não é pessoa que se revela, acusa minha fuga, se não é convite a conversão, acusa minha obstinação no erro, se não leva a oferecer a Ele o melhor, talvez não tenhamos Entendido ele como Amor, pois, para quem se ama, não se dá menos que a vida, o tempo e a dedicação.
Busquemos purificar nossa Imagem de Deus, para celebrá-Lo bem.
Texto do Padre Daniel Chagas - Diocese de Cruz Alta - RS - Brasil